quarta-feira, 23 de março de 2016

Contraposições Veganas à Ditadura

     Durante décadas fui um voraz comedor de todo tipo de carne, porém, após obter informações disponíveis que eu me negava a ver, há três anos decidi parar de comer animais criados e torturados pelo cativeiro. No momento me encontro tentando trilhar o caminho do veganismo e também abolir o consumo e a utilização de qualquer produto de origem animal.
    Embora tenha convicção de ser este o caminho que eu devo seguir, por diversas falhas e idiossincrasias minhas, acredito que jamais obterei o sucesso total. Contudo, caso atinja uma meta imaginária de cerca de 90% de refeições veganas já me darei por satisfeito, embora sempre vise supera-lá.
     Mas porque eu também me privaria dos diversos prazeres e facilidades que posso desfrutar consumindo produtos de origem animal que não sejam diretamente seus cadáveres, ou mesmo alguns que sequer causam diretamente a morte dos mesmos?
     Simplesmente porque não acredito que os fins justifiquem os meios.
     Não acredito que se possa torturar gansos através de alimentação forçada para que eu possa desfrutar do delicioso e abominável "foie grass"!!! Não acredito que se possa torturar vacas para lhes roubar o leite que seria de seus filhotes e ainda torturar-los e posteriormente lhes roubar sua carne!!! O mesmo se aplica às galinhas poedeiras e seus ovos, às abelhas e seu mel, aos bichos-da-seda e a sua seda, enfim, a todos os animais que são diuturnamente explorados para o nosso bel e desnecessário prazer.
     Sendo assim, porque agiria diferente com os seres humanos, num tipo de especismo às avessas?
     Não pretendo fazê-lo! Da mesma forma, não acredito que os fins justificam os meios! Especialmente quando os meios são absurdos e os fins potencialmente catastróficos.
    Há anos não voto em nenhum político e tenho uma certa ojeriza irracional e preconceituosa contra praticamente todos eles. Há anos sequer tenho um aparelho de televisão em casa e já antes mesmo disso, não acompanho nada da vida política do país ou do mundo. Há poucos dias sequer saberia reconhecer a maioria das pessoas que habitam os noticiários recentes.
    Porém, se não compactuo com a tortura e o aprisionamento indevido de todos os animais, porque compactuaria com as mesmas medidas arbitrariamente impostas a qualquer ser humano?
     Não pretendo compactuar!!!
    Não posso aceitar que um pressuposto bandido seja despido, amarrado pelo pescoço a um poste e nele açoitado! Não posso aceitar que um suposto amigo de traficantes seja preso, torturado e morto pela polícia! Da mesma forma, não posso aceitar que um cidadão seja prejulgado e linchado em praça pública, sem sequer ser indiciado por qualquer crime e portanto, sem sequer poder se defender.
     Mesmo que no caso em questão se trate "apenas" de um linchamento de imagem. As maiores atrocidades cometidas pela humanidade, e que hoje em dia tem seus maiores horrores destinados aos animais, sempre tem seu nascimento em processos de descaracterização e desconstrução do outro, de desqualificação da sua opinião, não pelo conteúdo, mas pela origem, enfim, de naturalização da barbárie.
     Sinceramente, não consigo entender como um cidadão é taxado de "o maior ladrão da história desse país", já sendo por muitos considerado culpado, sem sequer ter um processo criminal aberto contra ele.
    Após dois anos de intensas investigações com a exclusiva dedicação de um juiz federal, 24 grandes operações policiais, o apoio incondicional da grande mídia, mais de 500 mandados de busca e apreensão cumpridos, mais de 100 mandados de condução coercitivas, mais de 100 mandados de prisão, diversas delações premiadas, grampos telefônicos e todo o aparato estatal de investigação criminal e, após tudo isso, a única medida tomada contra o pretenso "maior ladrão da história desse país" foi um, no mínimo questionável, mandado de condução coercitiva para prestar depoimento e sua imediata libertação posterior!!! Após todo esse tempo e dedicação, sequer um processo criminal foi instaurado contra o referido cidadão!!!
     Aparentemente, o "criminoso" já foi condenado, só não foi ainda explicitado qual o crime cometido!!!
    E isso tudo acontecendo na sede administrativa do país. Isso tudo acontecendo sob os holofotes da grande mídia e sendo acompanhado de perto por grande parte da população letrada, ávida por verter o sangue de alguns malfeitores.
     Se, em pleno Distrito Federal e com pessoas "poderosas", tais condutas são aceitas e até mesmo estimuladas, o que se esperar que possa acontecer, e que vem há séculos acontecendo, com os pobres e excluídos que vivem nas sombras e andam pelas imundas vielas mal iluminadas desse imenso país, sem os holofotes da mídia e agora com o apoio de membros da sociedade que apenas transitam pela parte iluminada e limpa?! O que esperar que possa acontecer ao cidadão comum de classe média?! O que esperar que possa acontecer pelos matadouros, granjas e demais masmorras destinadas aos animais, sempre mantidos nos mais escuros e inacessíveis locais?!
    Todos nós sabemos o que acontece e o que irá acontecer de forma ainda mais intensa, caso essas práticas não sejam veementemente coibidas já no seu nascedouro.
    Assim sendo, mesmo indo contra minha posição provavelmente equivocada de não mais me interessar por fatos políticos, muito menos me manifestar sobre eles, qual em junho de 2013, decidi que, mesmo contrariado e cada vez com menos simpatia por toda a classe política, mais uma vez vou às ruas contra esse duro golpe contra a Democracia e seu princípio basilar, o Estado Democrático de Direito.
     Não para defender qualquer partido político, muito menos para defender qualquer político, mas para egoisticamente me defender! Defender meus direitos! Defender o direito dos meus amigos! Defender o direito dos meus inimigos! E também defender o direito dos "meus" cachorros, dos "meus" gatos, das vacas, dos gansos, dos porcos, enfim, de todos os seres sencientes, pois os direitos devem ser para todos, não apenas para os que me convém, quando me convém.
     Por consequência, como condição necessária, defender um Estado onde cidadãos não sejam publicamente linchados e taxados como criminosos sem a garantia ao devido processo legal e ao amplo direito de defesa e contraditório. Defender que penas sejam apenas aplicadas após estrito cumprimento de todos os ritos definidos pelas leis vigentes e pela Constituição, sem a utilização de qualquer atalho, por qualquer motivo que seja, sempre assumindo-se a presunção de inocência de qualquer um, até que devidamente provada sua culpabilidade. 
   E se, com todas essas garantias cumpridas, um criminoso ficar livre, que assim seja. Melhor que o risco de injustamente enviar às masmorras um inocente, fato que diariamente ocorre com os mais diversos animais e que os movimentos vegetarianos e veganos tentam, através do não consumo de seus produtos, evitar. Assim sendo, demonstra-se a clara intenção destes grupos de expandir os princípios dos Direitos Humanos a todos os animais sencientes, sem, obviamente, excluir os próprios seres humanos.
     A distância entra a legitimação de justiçamentos midiáticos e o pau-de-arara nos porões da ditadura é muito menor do que podemos imaginar, ainda mais numa democracia recente como a nossa, na qual diversos membros ativos do Estado de exceção ainda se encontram vivos, no governo e ávidos pelo retorno da mão pesada do Estado e do poder ilimitado e sem controle que a mesma lhes oferece.
     Pelourinho nunca mais!!!
     Tortura nunca mais!!!
     Ditadura nunca mais!!!
    Pelo fim de todos os abatedouros!!! Sejam de animais ou de humanos!!! Sejam de mortes reais de inocentes ou de mortes "virtuais" de cidadãos não condenados a nada!!!
    A bem da verdade, que a morte não seja considerada como pena e nem seja imposta a qualquer ser senciente, inocente ou culpado!!!
     Chega de sangue inutilmente derramado, qualquer que seja a fonte.
                         Carlos Magno Abreu



Citação completa da imagem:
     “Se uma opinião contrária à sua própria faz você sentir raiva, isso é um sinal de que você está subconscientemente ciente de não ter nenhuma boa razão para pensar como pensa. Se alguém afirma que dois e dois são cinco, ou que a Islândia está na linha do equador, você sente pena ao invés de raiva. As controvérsias mais selvagens são aquelas onde nenhum dos dois lados possuem boas evidências. A perseguição é usada na teologia, não em aritmética, porque na aritmética há conhecimento, mas na teologia existe apenas opinião. Assim, sempre que você se ver ficando com raiva devido a uma diferença de opinião, esteja alerta; provavelmente você vai descobrir, em exame, que a sua crença está indo além do que a evidência garante.
Bertrand Russell, "An Outline of Intellectual Rubbish" (1943)

Textos relacionados:

Nenhum comentário:

Postar um comentário